Migração do Winisis para o ABCD, alguns comentários

Mesmo 21 anos após o lançamento da última versão do Winisis, é possível encontrar em alguns centros de documentação este software operando. Por não ser exatamente um software de biblioteca, o Winisis por muitos anos foi utilizado para gerenciar acervos. Sua obsolescência se deu por opção da Unesco, criadora da tecnologia.

A Bireme em 2009 lançou oficialmente o ABCD como um software completo para os serviços de Biblioteca, mas também para substituir o Winisis. Isto pode ser comprovado ao acessar a Central do ABCD no menu Criar base de dados. A primeira opção é “A partir do Winisis”.

Apesar desta possível facilidade, muitos usuários comentam dificuldades nesta ação e é sobre isto que vou abordar neste post.



Compatibilidade

Após a criação de uma réplica de uma base de dados à partir do WinISIS é quando os problemas começam a aparecer. Eles se intensificam quando os dados são importados para o ABCD.

Todos os problemas são contornáveis com alguns ajustes. Alguns problemas, na verdade são pré-requisitos do próprio ABCD, não sendo exatamente um problema, ou seja, um ponto a ser observado de forma obrigatória.

Os problemas comuns são:

  • MFN corrompido na origem;
  • FST de reformatação mal construído;
  • Incompatibilidade dos formatos de exibição;
  • Ausência de regras de indexação compatíveis com o CISIS;
  • Ausência dos formulários de pesquisa internos.

Conforme dito anteriormente, estes conhecimentos devem ser pré-requisitos para a conversão e migração de bases de dados do ABCD para o Winisis, então antes que este texto avance para parte prática, cabe alguns comentários sobre cada um dos tópicos citados anteriormente.


MFN corrompido na origem

Um MFN é um registro lógico de uma base de dados CDS/ISIS, então dependendo da sua estrutura ou status é possível que não seja migrado integralmente ou parcialmente. Um grande exemplo são os registros com caracteres inválidos ou espaços no fim das linhas que poderão causar uma exportação incompleta. Durante a exportação é fundamental conferir se a quantidade de MFNs exportados é equivalente a quantidade de MFNs ativos.

Os chamados caracteres inválidos são os caracteres que pertencem a outra família de codificação e que geralmente são são inseridos de forma manual, mas sim através de comandos como Copiar e Colar durante a catalogação.

Os MFNs ativos são registros que não foram marcados como apagados.

ATENÇÃO!

Se a base de dados possui 50 MNFs e 5 registros estão marcados como apagados, na exportação teremos 45 MNFs.


FST de reformatação mal construídos

Em alguns casos é possível fazer uso da FST de reformatação para exportar os registros seguindo determinada configuração. Este recurso demanda uma atenção para evitar a perda de dados. O erro mais comum é a omissão de algum campo preenchido poucas vezes e que se não apontado corretamente na FST poderá ser exportado com a informação ausente.

O uso da FST de reformatação é opcional. Se deixado em branco, os registros de saída manterão suas etiquetas de campo e os campos manterão seus conteúdos. É possível realizar uma reformatação fornecendo o nome de uma FST. Neste caso, a FST é interpretada da seguinte forma:

  1. cada linha da FST representa um campo de saída;
  2. a cada campo de saída é atribuída uma etiqueta ISO igual ao identificador de campo definido na linha correspondente da FST;
  3. o formato de extração de dados fornecido na FST define os conteúdos do campo. Neste formato deve-se usar a etiqueta ISO dos campos, conforme definidos na base de dados. Cada linha produzida pelo formato (ou cada elemento, se a FST especificar as técnicas de seleção de termos de busca 2, 3 ou 4) gerará uma nova ocorrência do campo de saída.

Por exemplo, para uma base de dados que contenha os seguintes campos:

1     Autor (repetitivo)

2     Título

3     Palavras-chave (repetitivo)

4      Notas

Uma FST de reformatação poderia ser a seguinte:

1 0 MFN
100 0 (v1/)
200 0 v2
300 0 |<|v3|>|

Em uma breve explicação:

1 0 MFN            [campo de saída 1 contém o MFN]

100 0 (v1/)        [campo de saída 100 é igual ao campo de entrada l (é utilizado um grupo repetitivo no formato para que cada ocorrência do campo l saia como uma linha separada)]

200 0 v2            [campo de saída 200 é igual ao campo de entrada 2]

300 0 |<|v3|>| [campo de saída 300 contém palavras-chave encerradas entre <>, cada palavra-chave sendo tomada como uma ocorrência do campo 3 de entrada].

Como nenhum dos formatos faz referência ao campo 4., este campo não será exportado.


Formatos de exibição incompatíveis (PFT)

Tabela de Formato de Impressão (Print Format Table) Tabela usada para definir a maneira como será visualizado o conteúdo dos registros de uma base CDS/ISIS. Os arquivos PFT são utilizados também para imprimir o conteúdo dos registros em um arquivo ou para impressoras.

Para formatar os dados de um arquivo PFT é necessário ter conhecimentos básicos sobre a linguagem de formato CISIS e HTML.

O detalhamento sobre esta linguagem será abordado em um momento específico, mas o que precisa ser observado é que o ABCD, por ser um software WEB, permite muitas sintaxes com linguagens web junto com CISIS, enquanto no Winisis é permitido apenas CISIS. Esta característica faz com que alguns comandos CISIS não funcionem no ABCD, em outras palavras, como o ABCD utiliza recursos Web para exibir seus formatos, comandos como: cores, cabeçalhos, tamanhos de fontes deverão ser substituídos por HTML após a exportação dos dados.

Diferenças básicas entre CISIS utilizada no WinISIS e relação ao ABCD

ComandoWinISISABCD
Nova linha/ ou #<br>
Parágrafotab(valor)Via CSS:
margin-left: valor;
Cor de fontecl[valor]Via CSS:
color: valor;
Tamanho da fonteVia CSS:
font-size: valor;
Comando refA maioria das sintaxes não funcionam.

DICA! Gere um novo formato de exibição utilizando a tela de Relatórios a partir da Central do ABCD. É possível Editar o formato padrão e gerar um novo compatível automaticamente utilizando a opção Tabela.


Ausência de regras de indexação compatíveis com o CISIS (FST).

Não é possível executar nenhuma consulta no ABCD sem sua indexação. A importação do arquivo FST do Winisis até permitirá uma indexação, no entanto se alguns tipos de regra, como a ausência de prefixos não for definida, provavelmente os formulários de pesquisa não irão funcionar corretamente.

A Tabela de Seleção de Campos(Field Selection Tables), ou simplesmente FST, define critérios para a extração de um ou mais elementos de um registro do arquivo mestre. Estes elementos são utilizados na geração do arquivo invertido (índice), ordenação de registros na impressão de relatórios, ou para reformatar registros durante uma operação de importação ou exportação.

A Interface CISIS aceita todas 8 Técnicas de Indexação (TI), sendo do 0 ao 4 sem a possibilidade de identificação de campos e do 5 ao 8 com identificação de campos através dos prefixos.

Para sua definição, são necessários oito parâmetros básicos:

Sem prefixoCom prefixoOperação da técnica
00Campo inteiro – Constrói um elemento a partir de cada linha extraída do formato. Esta técnica é normalmente usada para indexar campos inteiros ou subcampos. Note-se porém, que o CDS/ISIS construirá elementos a partir de linhas e não de campos. Isto se deve o fato que o CDS/ISIS considera a saída do formato como uma cadeia de caracteres, onde campos não são mais identificáveis. É, portanto, responsabilidade do usuário produzir os dados corretos através do formato, especialmente quando se está indexando campos repetitivos e/ou mais de um campo. Em outras palavras, quando estiver usando esta técnica, assegure-se que o formato de extração de dados produza como saída uma linha para cada elemento a ser indexado.
15Subcampo – Constrói um elemento a partir de cada subcampo ou linha extraído pelo formato considerando delimitadores. Como o CDS/ISIS procura por códigos delimitadores de subcampo na saída do formato para que a técnica funcione corretamente, o formato deve especificar o modo de prova (ou nenhum modo, que é o padrão) que conserva os códigos delimitadores de subcampo na saída. Lembre-se que os modos “cabeçalho” e “dados” substituem os códigos delimitadores de subcampos por sinais de pontuação. Note também que a técnica 1 é uma extensão da técnica 0.
26Termos marcados com <e> – Constrói um elemento a partir de cada termo ou frase incluída entre < e > (menor que e maior que). Nenhum texto fora dos caracteres < e > será indexado. Note que esta técnica requer o modo de prova pois os outros modos apagam os caracteres < e >.
37Termos marcados com / e / – Executa o mesmo processamento que a técnica 2, exceto pelo fato que os termos são incluídos entre barras (/ … /).
48Por palavra – Constrói um elemento a partir de cada palavra do texto extraído pelo formato. Entenda-se por “uma palavra” qualquer seqüência de caracteres alfabéticos contíguos.

As técnicas de indexação 5, 6, 7 e 8 operam de forma semelhante às técnicas 1, 2, 3 e 4, respectivamente, diferindo apenas no fato que agregam prefixos aos termos extraídos.

A especificação de um prefixo é uma literal incondicional que utiliza a forma geral:

Exemplo:

mpu,('|TW_|'v245^a|%|/)

No WinisisNo ABCD
70 0 mhu,(v70/)70 0 mhu,(‘AU_’,v70/)
24 4 mhu, v2424 8 mhu,’/TI_/’,v24
69 2 v6969 6 ‘/KW_/’,v69

É importante notar que com a técnica 0 (zero) é a única em que a prefixação é uma opção.


Ausência dos formulários de pesquisa internos

O ABCD ao receber uma base de dados do Winisis não é capaz de prever quais os campos estarão disponíveis para pesquisa e nem como os dados estarão disponíveis, então é obrigatório logo após a criação de uma base de dados, criar seus formulários de busca.

Os formulário de pesquisa simples e avançada são utilizados em dois locais no ABCD: no módulo de catalogação – para permitir ao catalogador de forma rápida e/ou eficiente identificar um registro específico para edição (verificação de duplicata ou copiar) – e no OPAC – como o formulário de pesquisa avançada.

Aqui o ABCD simplesmente oferece um editor para a tabela que define o formulário de pesquisa com três colunas:

  • A primeira coluna é o nome do campo ou “índice” da forma como irá aparecer no formulário de pesquisa;
  • A segunda coluna contém o identificador usado para determinado campo (ou uma combinação de campos) da FST;
  • A terceira e última coluna contém o prefixo, ou string fixa inicial, que é usado (se houver) no arquivo invertido ISIS para este índice.

O ABCD também vai apresentar, ao lado (à direita) desta tabela, a FST existente para facilitar a identificação dos índices (campos de pesquisa) e os identificadores utilizados. Ao clicar em “Atualizar” salva a tabela, que na verdade é um arquivo chamado “busqueda.tab”, armazenado na subpasta de idioma da pasta “pfts” dentro da pasta da base de dados.



Conclusão

Embora o ABCD seja um herdeiro da estrutura do Winisis, é preciso levar em conta que é um sistema totalmente voltado para o funcionamento em navegadores de Internet. Por ser um grande gerenciador de bancos de dados, cabe a pessoa que faz sua manutenção o planejamento e conhecimento específico para fazer uma migração com qualidade. Para isto, sugere-se a leitura dos manuais disponíveis na seção de downloads.

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